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Píer de Brendon Reis na Galeria Inox (RJ) até 20/Nov

A visão de um píer é um horizonte repleto de possibilidades imagéticas, empíricas e psíquicas. Ao mesmo tempo que é possível se perder nas confluências entre as cores formadas pelo céu e a imensidão do mar, há aqueles que relatam uma emoção catártica ao se deparar com a beleza sublime existente na natureza“, texto de Bárbara Alves sobre Píer.

Eu estive na abertura no dia 20 de outubro quando conheci Brendon pessoalmente e conseguir bater um papo com ele sobre a exposição. Nessa matéria, unindo suas falas com recortes do texto da apresentação, vou apresentar pra vocês Píer.

Na primeira individual de Brendon Reis na Galeria Inox, somos “como meros observadores de um píer convidados a imergir” no seu questionamento da fantasia nessa série que o artista já trabalha há quatro anos, em que ele “retoma o protagonismo gay no ambiente portuário criando possibilidades, narrativas e singularidades para esses indivíduos“: “eles estão olhando para frente, não estão escondendo o rosto, como um desenho figurativo eles se comprometem a confrontar o olhar”, diz Brendon.

Eu me senti confrontado e meio que encarado pelos seus “personagens” e o questionei se esse sentimento era comum e proposital e Brendon comentou que “acho que é por isso que coloco brilho nos seus olhos”. É um exercício de humanizar essas figuras que já muito tempo permaneceram desconstituídas de suas individualidades.

A obra “Três Marias” (2023) é o primeiro convite para que o espectador entre nesse universo. Os corpos dos marinheiros se posicionam encarando quem imerge nessa realidade, ao mesmo tempo que o branco de suas roupas remonta a uma ausência de identidade, tema que é explorado ao longo da exposição.
A obra “Píer” (2023) explora a subjetividade desses corpos, por meio das diversas formas orgânicas apresentadas nas estampas e na constelação, que formam o fundo dessa composição. Brendon explora uma técnica adaptada de um processo da gravura, chamada monotipia, explorando as possibilidades sensoriais obtidas pelo relevo dessa composição. Nesse ponto, ficam nítidas as simbologias impregnadas nas roupas dos marinheiros, que remetem a pluralidade e a individualidade exploradas nessas figuras. Enquanto, os primeiro marinheiros apresentados são desconstituídos de suas particularidades, aqui, essa construção se torna sólida e fundamental para a exposição.

Uma “instalação” me chamou atenção, já que os retratos dos marinheiros estavam dispostos como em um formato de relógio e eu perguntei ao Brendon se isso já tinha sido concebido dessa forma: “como eu faço meu trabalho muito em série, essa série foi uma das que eu fui pintando de quatro em quatro, eu tinha dez dela durante a curadoria mesmo, fomos conversando e como tínhamos a ideia de colocar ‘O Beijo’ (2023) ~ afinal todo artista tem uma interpretação de um beijo ~ no meio, na montagem, fomos construindo esse pensamento em conjunto, junto com a curadora Bárbara Alves , quando a gente viu criamos essa montagem”, compartilha Brendon.

Nesse momento, temos o ápice da exploração das identidades dessas figuras, já que cada obra ilustra os rostos dos marinheiros dando nomes diferentes a cada um, mas atribuindo o sobrenome ‘Oceano’, que identifica uma territorialidade comum a todos esses indivíduos. É um exercício de dar a esses personagens suas subjetividades e características, além de suas funções de trabalho“.

Eu perguntei ao Brendon porque a escolha dessas cores, azul e dourado, para permear toda a sua exposição: “eu sigo um conceito de dualidade, o dourado representa o quente, o luminoso, entre os metais é o mais puro; o azul é uma das cores mais puras na pintura”.

Ao mesmo tempo, que Brendon traça esse paralelo das identidades dos trabalhadores do píer, também há um exercício de sensibilidade, beleza e imersão“.

Para Brendon essa série “virou uma linha de pesquisa, faz sentido aprofundar”. Ele pretende continuar sempre acrescentando novas ideias e criando dentro dessa temática mais homoerótica e mais simbolista”.

SERVIÇO:

Píer – Brendon Reis

Período: 20/10 a 20/11

Galeria Inox: Av. Atlântica, 4240 – Subsolo 101 – Copacabana, Rio de Janeiro – RJ, 22070-011

@brendonreis.art

@galeriainox

Rodrigo Santiago

Rodrigo Santiago

Carioca, mas cosmopolita. Adora traduzir tendências, comportamentos e movimentos através dos seus textos. Adora mergulhar em iniciativas inovadoras e em experiências originais. Adora compartilhar os insights que têm através do seu olhar e conectar pontos não-óbvios, dando mais robustez ao que escreve. Está disponível para cobrir seu evento ou experiência assinando matérias autorais e branded content. Faça uma cotação através da página de contato.