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Matias Brotas abre primeira individual ‘Paisagem ainda que’ do artista Manfredo de Souzanetto no ES

Nessa quinta (25.05) eu comecei a escrever meu nome no mercado de arte capixaba, demorou um pouco mais do que eu imaginava, mas no final tudo é na data certa e nos momentos certos. Hoje eu estou entendendo melhor o legado que eu construí nesse ambiente da arte contemporânea desde a primeira visita que fiz à ArtRio em 2014, quando comecei a desbravar esse ambiente um pouco hostil e um pouco elitista em que muitos nem tentam se aproximar pelo medo das reações que podem gerar, eu sei. Era difícil me aproximar e me sentir acolhido. Era uma audácia. Eu sentia os olhares acusadores, me sentia um intruso, um poser, alguém que queria só aparecer nesse ambiente, enquanto, na verdade, eu só queria me inspirar e refinar meu olhar. Este sempre foi o objetivo.

Mesmo com essa recepção não calorosa, eu segui em frente, sempre com elegância, começando a noticiar exposições, visitar galerias, ouvir curadores, assistir documentários sobre carreiras de artistas… nesse meio tempo, enquanto eu escrevia para o SRZD.com, ninguém entendia o que um produtor de eventos e um iniciante no colunismo social entendia de arte, muito menos quem ele achava que era para escrever sobre o assunto. E eu realmente não entendia. Mas sentia que tinha ali uma oportunidade de construir em conjunto com meus leitores esse repertório. Quase nove anos depois, muitas edições da ArtRio com credencial de imprensa, minha primeira visita guiada para meus convidados na Feira, muitas horas de imersão em galerias, cursos, leituras e muitos convites a vernissages, me sinto pertencente a esse ambiente. E sei que estou dando oportunidade para outras pessoas a conhecerem mais desse mercado, através dos meus textos e das minhas postagens, traduzindo pra elas meu olhar sobre diferentes temáticas e as estimulando a construírem suas próprias relações com a arte contemporânea.

E eu estou fazendo questão de dar essa introdução para apresentar minha trajetória e mostrar que o caminho não é fácil.

Na quinta-feira eu fui à Matias Brotas Arte Contemporânea com dois intuitos: me apresentar oficialmente ao mercado capixaba (e vislumbrar possibilidades de expandir minha carreira nessa atuação localmente, em segundo plano: tem artistas talentosos na região e iniciativas interessantes do setor, mas quase ninguém especializado/relevante para falar sobre, o que abre bastante espaço para minha atuação) e prestigiar o Juarez Gustavo Soares, que participou do talk principal e que foi nosso entrevistado n’A Mente Por Trás no ano passado. Inclusive, assista aqui ou ouça aqui seu episódio.

Equipe A Mente por Trás: Márcio Merçoni, Rodrigo Santiago & Ravel di Paula

“Paisagem ainda que”, mostra uma curadoria feita pela Matias Brotas de trabalhos realizados entre 2003 e 2023 e veio da vontade do artista Manfredo de Souzanetto de deixar em aberto o sentido da obra, “abrindo um leque de interpretações e significados, ampliando a percepção do espectador, que tem um olhar desde os pigmentos naturais às madeiras como também ao formato das obras e a textura da superfície pictórica“. Os pigmentos naturais são dejetos da mineração e são desenvolvidos pelo próprio artista através de um processo demorado para atingir o pigmento ideal, em que ele mesmo prefere fazer para determinar a granulometria da tinta, se ele moe mais pode ter uma tinta muito fina, se moe mais o resultado será um pigmento mais áspero que se aproxima muito da beleza da terra natural. O processo de criação inicia no recolhimento do material natural em volta de Belo Horizonte nas mineradoras, Manfredo então leva para seu ateliê pedras, filitos triturados, que serão transformados em pigmentos. Apenas quando se precisa de cores primárias, ele busca pigmentos industriais, deixando o seu processo em grande parte conectado com a sustentabilidade e ao mesmo tempo, “levando pedaços da paisagem para se tornar a matéria dos seus projetos”.

Para o curador Agnaldo Farias, Manfredo é um artista marceneiro e artesão, no seu processo é capaz de percebermos “o gosto pelo toque, pelo corte, pelo contato, no caso do Manfredo isso vai até o grão da pintura, vai no tecido que reveste e vai no pigmento que ele manipula“.

Um conceito sempre presente nos trabalhos do artista é a tridimensionalidade das suas esculturas pintadas que se conecta com a escola do Construtivismo, uma influência da época em que morou e estudou em Paris. Também se percebe um embate com a própria matéria, através da torção do chassi de madeira, quando parece que elas já vieram curvadas, mas na verdade não passaram de experimentações do artistas, as madeiras são cortadas quase no limite do ponto de quebra e isso permite trabalhar essas torções. É então a forma das suas esculturas/pinturas que dá essa sensação de dinamismo.

Depois que assistimos ao documentário que conta um pouco da sua trajetória, o talk começou com a Lara Brotas, falando sobre os 17 anos da Matias Brotas, a evolução do mercado de arte capixaba desde que elas começaram com a galeria e a vontade de buscar oportunidades de ampliar o diálogo da arte com o público em geral, proporcionando um campo aberto para esse tipo de diálogo acontecer, deixando a arte falar por si só e proporcionar ambientes para que as pessoas acessem esse ambiente que a arte oferece da maneira que quiserem. A galeria vem se reinventando durante esses dezessete anos, entendendo as necessidades do estado e receber a primeira individual do Manfredo em terras capixabas tem uma grande importância, ao apresentar o artista para o público da região. E o convite feito ao Juarez não foi por acaso, ele é considerado muito importante para a galeria, um amigo e colecionador.

Juarez Soares traçou paralelos sobre sua experiência escalando montanhas ao redor do mundo (ele é conhecido por ser o primeiro capixaba a chegar ao cume do Everest) e sua compreensão do papel da arte na sua vida, em que ele enxerga a importância do contemplar, seja no relacionamento emocional com uma obra de arte, seja vislumbrando paisagens incríveis e visões espetaculares que teve. Apaixonado por montanhas ele busca contato e conexão com a natureza através do montanhismo e compartilha que “toda escalada é um exercício de autoconhecimento e com o aprendizado de lidar com coisas que você não tem controle“. E que essa atividade tem a ver com velocidades, na medida que você avança, o universo ao redor pouco se modifica.

Para Juarez, “quanto maior ou mais difícil a montanha que eu subo, menor eu volto dela. Você aprende que está lidando com coisas que são independentes de você e que continuarão existindo independente do que você faça“.
Para Manfredo, “arte tem a ver com a necessidade de transcender o que é ser humano e a natureza é a maior manifestação da ideia de Deus, do microcosmo ao macro. Meu desafio é na investigação no meu ateliê, ali é meu microcosmo“.
O bate-papo com mediação da Flavia Dalla foi riquíssimo de reflexões e tradução de conceitos, Juarez comentando que adquire uma obra de arte pela relação absolutamente emocional que tem com ela, não por uma questão de investimento; Manfredo acredita que ao adquirir uma obra de arte, você leva um pouco do artista pra casa, é uma outra pessoa que entra no seu universo; Lara comenta sobre a necessidade de contato que a arte gera, da entrega que ela tem por conta da presença de uma audiência e ela acredita em expandir a ideia do cubo branco, levando arte para lugares da cidade, para impactar.
Ao final pudemos fazer perguntas, interagir com esses profissionais incríveis e a noite terminou em uma troca espetacular, falando sobre o impacto que a arte tem nas nossas vidas, na paixão por fazer parte desse universo, desse microcosmo nas palavras do Manfredo e pra mim ficou perceptível a necessidade de compreendermos que cada um ali é um agente transformador que deve levar pra frente esses conteúdos.

Fotos que ilustraram a matéria de Cloves Louzada

Para quem quiser visitar a exposição, as informações estão abaixo:

Exposição “Paisagem ainda que” de Manfredo de Souzanetto na Matias Brotas arte Contemporânea

A exposição ficará aberta para visitação gratuita de 26 de maio a 28 de julho na Matias Brotas arte contemporânea:  Av. Carlos Gomes de Sá, 130 – Mata da Praia,

Tel: (27) 99933-8172 / 3327-6966

Horário de funcionamento: de seg. a sexta: 10 às 19h

Instagram: https://www.instagram.com/matiasbrotasarte

Rodrigo Santiago

Rodrigo Santiago

Carioca, mas cosmopolita. Adora traduzir tendências, comportamentos e movimentos através dos seus textos. Adora mergulhar em iniciativas inovadoras e em experiências originais. Adora compartilhar os insights que têm através do seu olhar e conectar pontos não-óbvios, dando mais robustez ao que escreve. Está disponível para cobrir seu evento ou experiência assinando matérias autorais e branded content. Faça uma cotação através da página de contato.