Pelo segundo ano consecutivo, o Prêmio FOCO é apresentado pelo Instituto Cultural Vale e tem a oportunidade de selecionar seis artistas brasileiros para serem reconhecidos por seus trabalhos – Yhuri Cruz, Laryssa Machada, Monica Costa Ventura de Oliveira, UYRA, Rose Afefé, Geane Viana de Souza. Todos receberão como prêmio residências artísticas no país e tiveram seus trabalhos expostos na ArtRio 2023, que aconteceu na Marina da Glória de 13 a 17 de setembro.

O Prêmio FOCO, destinado a artistas visuais brasileiros com até 15 anos de carreira, é um importante compromisso da ArtRio em estimular e dar visibilidade para a produção artística brasileira, estimulando a acessibilidade e a equidade desde o momento da inscrição. A premiação é a oportunidade de participar em residência artística, focando em aprimorar o processo de trabalho e criação, incluindo bolsas para se dedicação exclusiva aos estudos.
As residências serão agendas entre novembro de 2023 e agosto de 2024: as residências parceiras do Prêmio FOCO esse ano são: Instituto Inclusartiz (Rio de Janeiro, RJ); JA. CA (Belo Horizonte, MG); Chão Slz (São Luis, MA); Residência São Jerônimo (Belém, PA); Residência São João (São José do Vale do Rio Preto, RJ); e Irê – arte, praia e pesquisa (Salvador, BA). A direção do Comitê Curatorial para seleção dos artistas tem direção de Bernardo Mosqueira e representantes das residências, direção da ArtRio e do Instituto Cultural Vale.
Artistas selecionados – Prêmio FOCO 2023
Yhuri Cruz (1991 – Rio de Janeiro/RJ) – Fará residência em Irê – arte, praia e pesquisa

Sua proposta para a residência foca na continuidade da pesquisa Pretofagia. Um foco especial está na criação de uma nova fotonovela da Pretofagia, aos moldes do trabalho intitulado “Jongo & Adriano” (2022), que está em cartaz na exposição ‘Um Defeito de Cor’, no Museu de Arte do Rio – MAR. Em “Jongo e Adriano”, há a inspiração em personagens do livro ‘Um Defeito de Cor’, de Ana Maria Gonçalves, para a viagem de ficção de duas de suas personagens pelos estados de Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia. A proposta durante a residência é a produção de um novo roteiro curto para uma fotonovela, o convite de atores/atrizes/performers para formar o elenco e a fotografia da mesma.
Para a ArtRio 2023, o artista desenvolveu instalações que dialogam com sua nova série intitulada ‘Efeitos da Maré’, em que utiliza pedras, cordas e tapetes de palha para desenhar composições no espaço e em paredes.
Laryssa Machada – (1993 – Porto Alegre / RS) – Fará residência em Chão Slz

Em 2018 trabalhou durante quatro meses no Projeto Memória Viva, pela ONG Thydewá, no qual percorreu oito aldeias do nordeste do Brasil (BA, PE, AL e SE) com oficinas de audiovisual, onde jovens indígenas produziram mais de 60 mini-documentários. Fez parte da Exposição Arte Eletrônica Indígena no Leeds International Festival (UK). Em julho de 2019. ministrou um curso de fotografia ritual no Centro de la Imagen y PANDEO residência artística, na CDMX. Em 2020, desenvolveu o projeto fotográfico ORIGEM, com indígenas LGBTQIA+, com Antônio Vittal Pankararu, com o apoio da University of Leeds. Recebeu o prêmio Vozes Agudas para mulheres artistas em outubro deste mesmo ano.
Sua proposta de residência traz o projeto “antes de você me amar, ela já estava me amando”, buscando cruzar histórias de relações lesboafetivas de corpos indígenas e afrodiaspóricos, com o processo de modificação do território pindorâmico pós invasão, onde, a partir de pesquisa histórico-geográfica da região selecionada e entrevistas de mulheres sapatonas/bissexuais, se ficcione encontros. A ideia inicial é construir cerca de 4 fotonovelas (fotoperformances + texto) ambientadas no território em questão.
O primeiro caso de violência homofóbica – que se tem registro – ocorreu com um tupinambá, em 1614, ordenado pela igreja católica. No contexto de um país invadido, onde os costumes nativos foram silenciados e exterminados sistematicamente, a homossexualidade e a transexualidade foram transformadas, ao longo de mais de 500 anos, em abjeção. Para além do impedimento de exercer suas “culturas afetivas”, o acesso ao território e a conexão com a natureza foram – e são – cada vez mais reduzidos pela lógica de urbanização. Desta maneira, o objetivo da pesquisa é fertilizar liberdades em territórios estendidos: território-corpo, território-terra, território-coletividade e a potencialização dos mesmos quando se encontram.
Para a ArtRio 2023, Laryssa levou a série de fotografias “GUERRERAS”, uma pesquisa/experimentação estendida sobre – e a partir de – corpos indígenas e afrodiaspóricos de mulheres que vivenciam histórias de afeto que transcendem as nomeações coloniais acerca do tema.
Monica Ventura – (1985 – São Paulo / SP) – Residência São João

Pesquisa filosofias e processos construtivos de arquitetura e artesanato pré-coloniais (Continente Africano – Povos Ameríndios – Filosofia Védica). Utiliza essa investigação para a elaboração de práticas artísticas geradas a partir de experiências pessoais. Suas obras falam sobre o feminino e racialidade em narrativas que buscam compreender a complexidade psicossocial da mulher afrodescendente inserida em diferentes contextos.
Sua proposta para a residência foca na continuidade da investigação de processos construtivos de arquitetura, design e artesanato provenientes de diferentes culturas que utilizam técnicas vernaculares e materiais orgânicos. Deseja trazer essa pesquisa para o campo escultórico e para o campo da abstração pictórica. A série, ainda sem título, vai falar de forma e escala em peças que buscam conexão com a arquitetura africana, em especial a arquitetura Dogon. Dogons são um grupo étnico nativo da região do planalto central do Mali, na África Ocidental, ao sul da curva do Níger.
Para o espaço durante a ArtRio 2023, trouxe instalação com três esculturas pequenas e médias.
UYRA – (1991 – Manaus / AM) – Fará residência em Instituto Inclusartiz

Sua proposta para a residência foca na observação sobre as plantas de crescimento espontâneo, espécies vegetais habitam toda a superfície das cidades, muitas delas em locais imprevisíveis. Esse processo é chamado pela ecologia de “sucessão ecológica”. É o retorno da floresta – da Vida –, à revelia do concreto e de suas opressões. Uyra faz paralelos possíveis entre essas plantas e os povos indígenas, bem como tantos grupos humanos vulnerabilizados pela lógica colonial da arquitetura, do imaginário e do funcionamento das cidades.
Nesse período, quer prosseguir com esta pesquisa, a partir do trânsito em outros lugares, biodiversidades e resistências urbanas para além das Amazônias. Construir um segundo ensaio em fotoperformance da série Retomada – uma trama inédita de histórias de espécies de plantas que habitam outros territórios, constantemente teimando e reterritorializando-os com Vida. Uyra acredita ser uma chance interessante para, através das plantas, também estabelecer conexões poéticas-políticas com as realidades e desafios das pessoas que juntas às plantas, coabitam esse outro lugar.
Durante a ArtRio 2023 apresentou a série de fotoperformance Retomada, que juntas contam uma única história: a da teimosia de plantas reterritorializando com Vida os espaços urbanos do Brasil.
Rose Afefé – (1988 – Varzedo / BA) – Fará residência em JA. CA.

Para o período de residência, pretende continuar a investigação artística sobre moradia, o habitar, em como vivemos. Desenvolver trabalhos sobre as construções existentes no território, coletando memórias de moradores da região, para entender como são constituídas as relações entre habitante e edificação. Fará registros orais das pessoas para investigar a visualidade de espaços de dentro e de fora que compõem o imaginário da comunidade. Desdobrando essas composições de pensamento e história em práticas visuais a partir da pintura, da escultura e intervenções em paredes.
Para expor na ArtRio 2023 criou uma parede “tela” e sobrepor com uma tela em tamanho menor a continuidade da parede. Dentro de sua pesquisa e prática de realizar esculturas de paredes feitas com adobe (tijolo de barro cru) e cal, tem desdobrado seu trabalho para outros suportes como a tela.
Gê Viana – (1986 – Santa Luzia / MA) – Fará residência em São Jerônimo

Para sua residência, traz pesquisa iniciada em 2021, na cidade de Bordeaux, e traz um cruzamento entre a pintura e a colagem manual. A pesquisa tem início no Trânsito colonial, que aconteceram nas cidades litorâneas do Brasil – “a maré ficou de ressaca e nunca mais retornou”.
Para apresentação na ArtRio 2023, trouxe a série SAPATONAS, colagens produzidas em 2018. A obra problematiza as identidades de gênero da população LBGTQi+. Fala de um tempo onde o amor, o desejo, as fissuras das relações de casais lésbicos são postas através de recortes carregado de sentimentos e luta, porque na história da fotografia da imagem televisiva e impressa nossos corpos sempre estiveram a margem sendo colocados em lugares de vulnerabilidade e tristeza. Quantas histórias felizes em gibis, filmes ou novelas relatam os amores do mundo gay de forma feliz próspera? – questiona a artista.
Sobre a ArtRio 2023
A ArtRio 2023 é apresentada pela PRIO e pelo Instituto Cultural Vale, com patrocínio da Beck’s. A feira tem o apoio das marcas Allos, Rio Galeão, Alta Diagnósticos e VIVO. Apoio Institucional de IBMEC | Instituto Iduqs, Paco Rabanne, Bombay, Sauer e AlaMaster. Rede Windsor Hoteis, com o Miramar Hotel, como a rede de hotéis oficial do evento e o Shopping Leblon é o shopping oficial.
O evento tem patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro e do Ministério da Cultura.
A realização da ArtRio é da BEX Produções e coprodução da Dream Factory.
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